Terça-feira, 27 de Fevereiro de 2007

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publicado por musicg33ks às 13:33
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Entrevista a Fernando Pessoa

Boa tarde, Fernando Pessoa. Agradeço a sua disponibilidade e espero que lhe agrade o local que escolhemos para a nossa entrevista.
 
Fernando Pessoa – Agrada-me o local, mas estou surpreendido com a estátua que de minha pessoa aqui colocaram?!..
O Chiado também está mais agitado e barulhento… As pessoas que passam quase que correm… Os seus rostos são fechados.
Mas diga, que curiosidade tem a meu respeito?
 
Primeiro gostaríamos que nos fornecesse alguns dados biográficos.
 
Fernando Pessoa – Pois bem, nasci em Lisboa, às 15:20 horas, do dia de Sto. António do ano de 1888.
            Meu pai, Joaquim de Seabra Pessoa, natural de Lisboa, era funcionário público do Ministério da Justiça e crítico musical do “Diário de Notícias”; minha mãe, D. Maria Magdalena Pinheiro Nogueira Pessoa, era natural da ilha Terceira.
            Por acaso, estamos junto da igreja em que fui baptizado, sabe, foi aqui mesmo, na Igreja dos Mártires.
 
Então Lisboa foi a sua cidade, não?
 
Fernando Pessoa – Bem, nasci em Lisboa e a 30 de Novembro de 1935 morri em Lisboa, mas parte da minha infância e a adolescência e juventude foram passadas em Durban, na África do Sul.
 
E porquê tão longe e em terras estrangeiras?
 
Fernando Pessoa – O meu destino assim o determinava; estava escrito nos astros.
            Meu pai morre aos 43 anos, vítima de tuberculose e o meu irmão Jorge morre no ano a seguir, antes de completar 1 ano. Eu e minha mãe ficamos sozinhos e com problemas em subsistir. Até a mobília leiloamos e mudamos de casa, para um modesto 3º andar da Rua de São Marçal.
            Minha mãe volta a casar com o cônsul de Portugal em Durban e daí a minha ida e vida em África.
 
Que recordações tem desse período da sua vida?
 
Fernando Pessoa – Ora, senti-me longe e estranho, senti saudade e solidão, mas também me enriqueci. Recebi uma educação britânica, rigorosa, mas que me proporcionou um óptimo conhecimento da língua inglesa e da sua literatura.
            Mais tarde foi-me muito útil a nível profissional, quando me tornei correspondente comercial em Lisboa.
 
É verdade que também escreveu em inglês?
 
Fernando Pessoa – Claro que sim! Sabe que até à minha morte só a “Mensagem” foi publicada com escritos em português?!
            Os outros livros eram colectâneas dos meus poemas ingleses: Antinous e 35 sonetos e English Poems I – II e III.
 
Quando começou a escrever? Recorda-se?
 
Fernando Pessoa – Sim, sim… Logo após a morte de meu pai.
            Comecei a escrever com o pseudónimo Chevalier de Pas, e o meu primeiro poema tinha a seguinte epígrafe: À Minha Querida Mamã.
            Como faço o curso primário e toda a formação académica em Durban, escrevo tanto em português como em inglês. Cheguei mesmo, entre 899 candidatos, a receber o Queen Victoria Memorial Prize na minha prova de “ensaio de estilo inglês”, aquando da minha candidatura à Universidade do Cabo da Boa Esperança.
 
Com que idade regressa a Lisboa?
 
Fernando Pessoa – Só regressei em 1905, com 17 anos e os meus estudos completos.
 
Então e iniciou logo a sua vida profissional?
 
Fernando Pessoa – Não. Em 1906 matriculei-me no Curso Superior de Letras, mas não cheguei a completar o primeiro ano.
Salve, entrei em contacto com importantes escritores da nossa língua e interessei-me pela obra de Cesário Verde e pelos sermões do nosso Padre António Vieira.
            Havia tanto para ler, tanto para descobrir e conhecer…
            Quantas horas aqui passei em discussões filosóficas, sociológicas, político-religiosas e literárias.
            A minha vida profissional iniciou-se em 1908 e consistia na tradução de correspondência comercial. Era um trabalho que me deixava liberdade para a minha grande vocação de poeta e escritor.
            Em 1912 iniciei a publicação de ensaios e críticas literárias na revista “Águia”, tendo colaborado também na “Orfeu”, no “Centauro”, no “Portugal Futurista” e noutras.
 
Como explica a existência dos seus heterónimos?
 
Fernando Pessoa – Bom, talvez em mim coexistam várias personalidades, várias sensibilidades, várias realidades de Realidade…
            O que é a para Álvaro de Campos?...
            Será que é o mesmo para Ricardo Reis e Alberto Caeiro? Será que a sua noção de Realidade é a mesma daquele estranho transeunte? (passa um “gótico” do outro lado da rua). A sua Verdade é a minha Verdade?...
 
Então, mas assim não há certezas, não há verdades?
 
Fernando Pessoa – Até as certezas/verdades científicas se têm mostrado erradas ao longo dos tempos… Há tantas verdades! A minha, a sua, a daquela personagem que passou… Há que procurar, há que questionar e reflectir.
 
Encontramo-nos já no século XXI. Considera que o Homem realizou grandes progressos e o mundo avançou?
 
Fernando Pessoa – Ao longo da sua existência, o Homem tem realizado grandes avanços técnicos e científicos, mas parece’me que mesmo no século XXI a Ignorância, a Tirania e o Fanatismo permanecem nas sociedades modernas.
            Se fosse vivo, em prosa e em poesia, continuaríamos a lutar para o “…progresso da civilização e o alargamento da consciência da humanidade”.
 
Agradecemos imenso o tempo que nos dispensou e, sobretudo, a beleza, o sentimento e a grandiosidade da sua obra.
 
Fernando Pessoa – O prazer foi meu. Sei que depois de morto têm compilado e publicado os meus escritos e agradeço esse favor. Gostaria de vos deixar com umas palavras do meu heterónimo Bernardo Soares: “minha pátria é a língua portuguesa”.
 
Até sempre, Fernando Pessoa.
publicado por musicg33ks às 12:57
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